
ID: MCR, 65 anos, sexo feminino, casada, católica, natural e procedente de Fortaleza
HDA: após uma discussão violenta, desmaiou bruscamente, sendo encaminhada para a emergência do Hospital Geral de Fortaleza, permanecendo em coma durante 48 horas. Ao recuperar a consciência, aparentava estado de confusão mental, não conseguindo entender ordens nem expressar seus desejos, apenas balbuciava palavras e expressões sem conexão lógica. Apresentava hemiplegia no dimidio direito. Após uma semana de internamento e recobrada a consciência foi lhe dada alta, sendo encaminhada para acompanhamento ambulatorial, onde retornou 4 semanas depois.
HPP: Paciente com antecedentes de hipertensão, porém não soube especificar há quanto tempo.
Exame físico:
Sinais vitais: pulso: 70 bpm; FR: 27 IPM; temp: 36º C; Pressão 15:8 mmHg
Cardíaco: RCG, 2T, BNF, S/ sopros.
Respiratório: tórax atípico, som claro pulmonar, frêmito toraco-vocal normal, murmúrios vesiculares preservados nos ápices e presença de crepitações finas nas bases.
Abdominal: NDN
Neurológico e minimental: Hemiplegia direita, sem atrofia, aumento do tônus muscular e exagero dos reflexos tendinosos. Sinal de Babinski positivo. Desvio da língua para a direita à protrusão, sem sinal de atrofia. Paralisia facial direita, afetando os músculos infra-oculares (metade inferior da face) e preservava a região fronto-ocular. Sensibilidade (proprioceptiva, tátil, térmica e dolorosa) estava abolida em todo lado direito do corpo, e apenas levemente diminuída na hemiface correspondente. Compreensão da fala era normal quando testada com solicitações simples e perguntas do tipo sim-não, mas comete erros quando solicitada a apontar vários objetos em sequência ou quando uma solicitação dependia da estrutura gramatical. Afasia presente. Confunde objetos (p. ex. lápis em vez de caneta), e para outras repete de maneira perseverante o nome do objeto anterior. Ela era capaz de repetir palavras isoladas, mas não frases de duas ou mais palavras. Usando o seu lado esquerdo não paralisado, ela era capaz de escrever letras isoladas em um ditado, mas não conseguia escrever palavras inteiras. A leitura em voz alta era trabalhosa, mas basicamente correta. A compreensão da leitura estava um pouco comprometida, sobretudo com frases gramaticalmente complexas.
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A paciente apresenta síndrome de neurônio motor? É inferior ou superior? De acordo com os demais achados do exame neurológico (destaque-os), em qual local do sistema nervoso o tracto córtico-espinhal foi atingido?
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A paciente apresenta um distúrbio da linguagem, função cortical superior. Que distúrbio é esse e qual área deve estar acometida para sua ocorrência? Obs.: Faça uma breve revisão sobre as principais áreas do SNC envolvidas com a linguagem.
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Supondo que a lesão seja de origem vascular, qual vaso estaria cometido e de que lado? Explique a partir de qual ponto o fluxo sanguíneo estaria interrompido (se mais proximal da origem do vaso ou mais distal) e por quê? Faça uma figura ilustrando o local da lesão e as áreas acometidas do SNC.
Discussão das indagações:
1. Sim, a paciente apresenta Síndrome do Neurônio Motor Superior. Devido a paralisia facial central, e plegia da metade direita do corpo, sem atrofia, com hiperreflexia e hipertonia e sinal de babinski positivo. Provavelmente a lesão do trato córtico espinhal foi na cápsula interna esquerda. Há desvio da língua para a direita porque a lesão na cápsula interna também atingiu o trato córtico-nuclear.
2. O distúrbio é Afasia de Broca, ou afasia motora, por acometimento da área de broca, localizada nas partes triangular e opercular do giro frontal inferior do hemisfério esquerdo (na maioria das pessoas, principalmente destras). A paciente não consegue fazer a associação das palavras e quando fala, balbucia palavras sem conexão lógica, solta palavras sem formular frases inteiras.
3. Continuando. Que levam irrigação para o corpo estriado dorsal e para a cápsula interna, por onde passam os tractos cortico-espinal e córtico nuclear, certamente acometidos no caso clínico acima. Esse caso clínico, é um clássico dos AVEs, paciente idosa, hipertensa, sob estresse.