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O exame de nervos cranianos é, sem dúvidas, uma parte fundamental do exame neurológico. Há vários mecanismos pelos quais uma lesão desses nervos pode ser ocasionada, dentre eles o trauma craniencefálico. Esse método de dano é estudado no artigo em questão por meio da análise do caso de 54 pacientes atendidos na Santa Casa de Misericordia de São Paulo. Esses pacientes foram divididos de acordo com a gravidade do trauma, levando-se em conta o escore na escala Glasgow. 

Encontrou-se que os nervos mais comumente danificados isoladamente foram os N.C. I, VII e III. Faremos uma breve revisão sobre esses três nervos e suas funções e lesões: 

Nervo Craniano I

Anatomia:

Os filamentos do nervo olfatório (NC I) atravessam a lâmina cribriforme, juntando-se no bulbo olfatório (no qual faz sinapses com células mitrais, periglomerulares ou tufosas por meio de estruturas chamadas "glomérulos olfatórios). As fibras partem do bulbo olfatório e seguem para o córtex olfatório, onde terminam, e para a comissura anterior, onde decussam. 

Função:

O nervo olfatório é um nervo aferente visceral especial, tendo como função a olfação. É importante ressaltar que o olfato está intimamente ligado ao paladar, logo é comum (embora em muitos casos não aconteça) que lesões no nervo olfatório causem prejuízo ao paladar.  

ARMADILHA: A função de aferir "cheiros irritantes" (como o ácido) não cabe ao NC I, mas ao NC V, logo esses odores devem ser evitados no teste do NC I. É um artifício útil para se utilizar na verificação da veracidade da afirmação de anosmia.

Mecanismo de lesão:

O NC I é bastante susceptível a lesões do tipo golpe e contra-golpe. O motivo disso tem base na anatomia, uma vez que o nervo se encaixa nos orifícios da lâmina cribriforme, os quais podem danificar o nervo em caso de movimento rápido de deslizamento do cérebro. Segundo o artigo, o mecanismo mais comum de trauma a causar anosmia é o trauma occiptal. 

Efeitos da lesão:

A lesão do nervo olfatório pode levar a anosmia ou hiposmia. É comum ocorrer também déficit gustativo. Em casos nos quais esse déficit não ocorre, mesmo com anosmia aparente, sugere-se que tenha havido perda parcial da olfação para odores advindos da nasofaringe. Lembre-se que o olfato para substâncias irritantes é preservado caso haja lesão isolada do nervo olfatório. Uma particularidade interessante desse nervo é que ele permite certo grau de recuperação, o que indica que um paciente anosmico pode reaver seu olfato com o tempo.

ARMADILHA: Anosmia/hiposmia nem sempre indicam lesão de nervo craniano. Em muitas situações há alterações na cavidade nasal, como inflamações de mucosa, que podem causar esse déficit.

Nervo Craniano VII

Anatomia:

O NC VII é um dos nervos cranianos mais anatomicamente complexos. Ele emerge proximalmente do sulco bulbopontino juntamente com o nervo intermedio. O nervo intermedio (com fibras aferentes e parassimpáticas) e o facial (com fibras eferentes) seguem separadamente por um curto percurso, até que se unem no gânglio geniculado. Intracranialmente, o NC VII tem 3 ramos: 

1- Nervo petroso maior: Função parassimpática-glândulas, como a lacrimal

2- Nervo para o músculo estapédio:  Inervação motora do estapédio

3- Corda do timpano: Inervação visceral eferente das glandulas submandibular e sublingual; aferencia visceral especial-gustação

O nervo facial emerge do crânio pelo forame estilomastoideo. A partir dessa localização, todos seus ramos são motores. Logo gera o nervo auricular posterior (inerva músculos auriculares e ventre occiptal do músculo occiptofrontal) e os ramos para os músculos digástrico e estilohioideo. Mais tarde, sob a glándula parótida, gera seus cinco ramos da mímica (de cima para baixo): Temporal, Zigomático, Bucal, Mandibular marginal e Cervical.   

Função:

As funções do NC VII são mímica facial, paladar e salivação, entre outras. Essas funções são detalhadas abaixo:

1- Mímica facial: Controla todos os movimentos da face, da orelha, e dos músculos digástrico e estilohioideo. Isso se da por via dos ramos que emergem após a saída pelo forame estilomastóideo. 

2- Paladar: O nervo lingual é responsável pelo paladar dos 2/3 anteriores da língua. Suas fibras seguem pelo corda do tímpano até o nevo facial. É importante ressaltar que a sensibilidade geral dessa porção da língua é dada pelo NC V.

3- Salivação: Em sua função efferente visceral especial, o NC VII estimula a salivação das glândulas submandibular e sublingual. Essas fibras emergem do tronco cerebral via nervo acessório e, após a junção com o NC VII, pelo qual seguem por um curto caminho, continuam via corda do tímpano.

4- Outros: São funções indiretas do nervo facial (mas que podem ser comprometidas em sua lesão):

-Lacrimejamento (via Nervo Petroso Maior)

-Modulação auditiva (via Nervo para o Músculo Estapédio): Há hiperacusia na lesão do NC VII

 

Mecanismo de lesão:

A fratura transversa de osso temporal é a causa mais comum de lesão traumática do nervo facial. Esse dano ocorre na região timpanica (ou em suas proximidades). O déficit pode ser instantaneo (quando há laceração do nervo) ou tardio (quando é causado por edema). Esse tipo de fratura ocorre geralmente após trauma frontal ou occiptal. A paralisia facial ocorre em cerca de 50% dos casos e é, em geral, imediata. Comumente o ganglio geniculado é atingido.

A função perdida pode ajudar no diagnóstico topográfico da lesão do nervo. Por exemplo, uma lesão proximal (na região timpanica) acarretará perda do lacrimejamento, além das outras funções do nervo. Uma lessão mais distal preservará o lacrimejamento, e assim por diante. 

 

Lesão:

Gera perda de função correspondente ao local onde o nervo é lesado. A paralisia geral do NC VII gera paralisia facial, secura no olho e hiperacusia.

Lesões Traumáticas de Nervos Cranianos

Editor da discussão: Lucas Fernandes

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