
ID: M.F., feminino, 4 anos, caucasiano,natural de Denver (Colorado - EUA).
QP: Ataques convulsivos.
HDA: Paciente sofria convulsões características de epilepsia, chegando a cerca de 100 ataques por dia,com uma frequência de três minutos de diferença entre eles.Os ataques eram parciais,visto que não ocorria perda de consciência, irrompendo apenas no lado direito do corpo e cessavam durante o sono.A paciente apresentava déficit cognitivo e motor progressivos(estava esquecendo-se de como andar, conversar, comer e aprender), tornando-se incapacitada do lado direito do corpo.As crises eram refratárias a vários esquemas medicamentosos. Um dos ataques começou com tremor no canto direito da boca, irrompendo para o restante do lado direito da face, seguido pelo tremor do seu braço direito e perna direita, até que todo lado direito do seu corpo teve contrações espasmódicas incontroláveis e depois se relaxou.Passou a alimentar-se por tubo nasogástrico,visto a dificuldade de comer e o risco de engasgar-se.
HMP: A paciente teve seu primeiro ataque repentino aos 18 meses, duas semanas depois ela sofreu uma segunda convulsão,sendo medicada com anticonvulsivo.Em uma tentativa de avaliação diagnóstica os médicos a colocaram em um coma barbitúrico por 17 horas,na esperança de que as convulsões parassem ao cessarem a atividade cerebral.Quando a retiraram do coma as convulsões recomeçaram de imediato.
1)Diagnóstico?
2)Como poderíamos confirmar o diagnóstico e por que tentou-se estabelecer um diagnóstico a partir de um coma induzido por barbitúricos?
3)Tratamento: Farmacológico ou Cirúrgico?
-Pense um pouco... as respostas estão logo abaixo,então deixe a barra de rolamento parada pra não ter "spoiler"...
1- Encefalite de Rasmussen! Uma inflamação extremamente rara do tecido cerebral. Essa desordem foi primeiramente descrita pelo Dr.Theodore Rasmussen em 1958 e consiste em uma doença neurológica progressiva de causa ainda desconhecida.Dr. Theodore R. reconheceu que a doença estava confinada a um lado do cérebro, afetando primariamente o lado oposto do corpo.Uma das questões obscuras é o por quê de a inflamação permanecer em um hemisfério do cérebro e não se "espalhar" para o outro lado.Os especialistas têm sugerido possíveis causas, como : o resultado de um derrame cerebral, de uma apoplexia, uma anormalidade congênita, um tumor de baixo grau ou o conceito mais comum,defendido pelo especialista em convulsões Dr. John M. Freeman que tem dito :" Nem mesmo temos certeza se isto é causado por um vírus, embora deixe pegadas semelhantes às de um vírus".
2- O diagnóstico deve prevalecer baseado na "clínica do paciente",entretanto o profissional pode valer-se de exames de imagem (cujas características serão demonstradas a seguir),também pode ser considerada uma biópsia cerebral (que foi o sentenciador do diagnóstico no referido caso) e ainda pode ser adquirida uma "pista" por meio do coma induzido.Nesse último caso, os médicos colocaram a paciente nessa situação e do resultado (as crises convulsivas retornaram assim que ela despertou do coma) conseguiram extrair que a causa da epilepsia não era uma falha elétrica do conduto cerebral, mas uma deterioração progressiva,o que fornecia ainda mais evidências de se tratar da Encefalite de Rasmussen.
3- Esse caso foi retirado do livro "Ben Carson- O menino pobre que se tornou neurocirurgião de fama mundial" e sua resolução foi cirúrgica, visto que outros esquemas farmacológicos vinham sendo usados desde a primeira crise da paciente,aos 18 meses.A cirurgia de escolha foi a hemisferectomia, procedimento experimentado há mais de 50 anos pelo Dr. Walter Dandy, que tentou utilizar a técnica em uma paciente com tumor,vindo esse a óbito.Devido aos resultados negativos a cirurgia foi perdendo créditos ao longo das décadas e mesmo Dr. Theodore Rasmussen ,que chegou a utilizar a técnica para tratar pacientes com a Encefalite de Rasmussen, estava desacreditando no sucesso da cirurgia na década de 1980.O procedimento no caso da paciente operada pelo Dr. Carson, foi sugerido pelo Dr. John M. Freeman, que primeiro recebeu o caso e repassou para Carson.A seguir será mostrado um caso de hemisferectomia não referente a Encefalite de Rasmussen, mas que também foi utilizada em uma síndrome epiléptica de difícil controle e que tem em comum com o caso o fato de ter sido encaminhada pelo mesmo Dr. John Freeman, que aparece dando um testemunho.
É interessante perceber a beleza do procedimento, visto que ele ilustra um dos conceitos mais intrigantes, discutidos e belos da neurociências, a Plasticidade Neuronal.Ao realizar a retirada de todo um hemisfério, principalmente no caso operado pelo Dr. Carson e no caso apresentado no vídeo, percebe-se a "tomada" de responsabilidade por parte do hemisfério que ficou acerca das funções antes designadas,predominantemente, ao hemisfério retirado."Nós só podemos fazer esta operação em crianças pequenas, porque as suas células cerebrais não decidiram o que querem ser quando crescerem", disse Carson.

Criança com convulsões frequentes
