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Fatores ambientais e o risco de ELA

 

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) se trata de uma das doenças mais conhecidas da neurologia e tem recebido atenção especial nos últimos anos, seja devido a importantes personalidades com a doença, como o cientista Stephen Hawking, seja por seu sombrio prognóstico, o qual tem inspirado uma intensa busca por tratamentos que melhorem a sobrevida e por curas, procura auxiliada por campanhas como o conhecido “desafio do balde de gelo”.

 

Contudo, além da cura, grupos de pesquisadores também buscavam conhecer possíveis fatores de risco para, a partir desses dados, elaborar medidas de saúde pública que pudessem reduzir a incidência da ELA. Focando suas pesquisas nesse âmbito, Feng-Chiao Su et al. publicou o artigo aqui discutido.

 

Fazendo um estudo de caso controle com duração de 3 anos e com participação de 156 pacientes e 128 controles, chegaram à conclusão que exposições ambientais podem estar ligadas ao desenvolvimento de ELA.

 

Os principais fatores de risco citados pelo artigo são exposição a pesticidas [tendo como exemplo os organoclorados] e o serviço militar. Contudo, a exposição a algumas toxinas alguma vez durante todo a história ocupacional demonstrou, surpreendentemente, certo caráter protetor, o que foi o caso do chumbo. Esse metal pesado, contudo, se mostrou como fator de risco em casos de exposição nos últimos 10 anos.

 

Os dados demonstrados nesse trabalho corroboram algumas antigas suspeitas as quais ainda não eram estatisticamente comprovadas. No caso dos pesticidas, por exemplo, já havia suspeitas de que contribuíssem para a doença por seu efeito neurotóxico, mas o presente artigo demonstrou estatisticamente uma grande contribuição desse fator.

 

No caso do serviço militar, já haviam observações sobre o fenômeno do aumento de incidência de ELA nessa população ao se estudarem veteranos da II Guerra Mundial e da Guerra do Vietnã, embora a população estudada fosse sempre reduzida. O estudo de Feng-Chiao Su et al. apontou como possíveis causas para essa correlação os danos traumáticos e o exercício físico intenso (fator de risco isolado já estudado mas contestado em alguns estudos).

 

Quanto aos metais pesados, como o chumbo, pesquisas anteriores já haviam sugerido que tais materiais fossem fatores de risco para o desenvolvimento de ELA, o que seria compatível com seu efeito deletério no organismo e com estudos epidemiológicos anteriores. Tendo isso em vista, é importante que sejam realizados mais estudos de grande porte antes que se descarte o chumbo como um fator de risco ou, mais surpreendentemente, se classifique esse metal como fator protetor pra ELA.

 

Por fim, outro fator de risco suspeito para ELA mas que, infelizmente, não foi abordado no artigo é a exposição a vírus, como o da poliomielite e outros de patologias mais comuns contemporaneamente. A associação entre ELA e vírus ainda não é, contudo, confirmada e mais estudos precisam ser feitos nesse âmbito.

 

Dessa forma, apesar dos vieses de pesquisas retrospectivas e do recrutamento de participantes, se torna ainda mais útil incluir questionamentos sobre a história ocupacional na anamnese de pacientes neurológicos, assim como tentar alertar os indivíduos expostos a esses fatores sobre a importância de se reduzir o risco por meio de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

 

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